Niterói se dobra à realidade e anuncia reabertura tímida das atividades
Embora medidas de combate à pandemia sejam consideradas umas das mais eficientes do Brasil, município não depende só dele
Por Cláudio Figueiras
Nesta quarta (20), o país registrou mais 888 mortes, chegando à impressionante marca de quase 19 mil vítimas fatais de Covid-19 no Brasil desde o início da pandemia do novo coronavírus (SARS-Cov2), noves-fora a subnotificação dos casos e a má vontade flagrante do governo federal em mitigar os efeitos da crise sanitária global no território pátrio.
Segundo o site do Ministério da Saúde, o Brasil bateu 291.579 casos acumulados, ficando atrás apenas dos EUA, com 1,6 milhão, e da Rússia, com 317 mil casos.
Para fins de registro, o site do Ministério dificultou o acesso aos dados disponibilizados por estados e municípios, e preferiu dar destaque ao número de casos recuperados (116.68 no total), como se isso diminuísse o impacto da tragédia que se avoluma e horroriza o mundo civilizado.
Dentre os dez países com maior incidência de Covid-19, somente o Brasil apresenta curva ascendente aguda de novos casos e mortes, indicando que o país, caso não sejam tomadas medidas mais rígidas de controle e contágio do patógeno, ainda terá um longo e duro caminho pela frente até a superação da crise sanitária e o retorno das atividades sociais e econômicas.
Dentro deste contexto que o município de Niterói foi comedido e cauteloso ao anunciar o seu plano de transição gradual para o que o governo chama de "nova normalidade", adotado já a partir desta quinta (21). Decisão que deve ter contrariado a expectativa de parte do empresariado da cidade e de políticos de extrema-direita da oposição, que exigem abertura total do comércio.
O plano foi anunciado pelo prefeito Rodrigo Neves no Facebook da Prefeitura na noite de ontem, respaldado por um grupo de trabalho que contou com a participação de técnicos da Prefeitura, especialistas do meio acadêmico, Ministério Público e entidades empresariais.
De mais significativo no plano, está a reabertura de uma janela para atividades como óticas, lojas de materiais de construção, oficinas mecânicas e de bicicletas, atividades da construção civil, serviços médicos, odontológicos e de fisioterapia.
A prática de exercícios físicos individuais na orla também será autorizada das 6h às 9h e de 16h às 22h para pessoas até 60 anos. Idosos acima de 60 anos poderão fazer atividades físicas entre 9h às 11h.
As regras de restrição de circulação e isolamento social serão mantidas até 30 de junho e continuam liberadas as atividades essenciais. E foi sancionada a lei que estabelece o uso obrigatório de máscaras durante três meses, sob multa de R$ 180 caso a medida não seja respeitada.
O plano prevê ainda que, caso seja necessário, a cidade poderá retroceder a estágios de restrição mais rígidos (lockdown).
Prefeito e equipe esperam que a dinâmica do processo seja condicionada pelo comportamento responsável e consciente da população e também pelo ciclo da epidemia, esta que foge ao ao controle do que é adotado apenas pelo governo local.
Ou seja, embora a cidade tenha realizado um trabalho elogiado por organismos nacionais e internacionais no combate à pandemia nas esferas sanitária, econômica e social, Niterói não é uma ilha protegida em meio ao turbilhão da crise, e depende também das ações de governos vizinhos, do estado e federal, que está longe de responder à crise de modo adequado.
Boletim
De acordo com o boletim epidemiológico divulgado nesta quarta-feira (20), Niterói tem 1.488 casos confirmados de Covid-19, com 839 em isolamento domiciliar sendo acompanhados pela Fundação de Saúde do Município. A cidade registra, até o momento, 82 óbitos e tem 506 pacientes recuperados.
No estado do Rio, já são 3.237 óbitos e 30.372 casos confirmados.