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O nome do amor - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS



Foto: Ana Cristina Victória/Divulgação
Foto: Ana Cristina Victória/Divulgação

Zé Maria é um cara super do bem. Nunca vi Zé Maria brigar com ninguém. Sempre naquele jeitinho cativante de falar com as pessoas. (“Justamente!“)

Numa terça-feira de maio há uns trinta anos atrás, conheci o Zé Maria, ele me apresentou a Ala de Compositores do GRES Unidos do Porto da Pedra, fomos parceiros em vários sambas, bebemos e choramos juntos na feitura dos sambas e quando eles eram desclassificados.


O normal, nesse caso é o compositor se revoltar, e praguejar a escola e toda a diretoria. Zé Maria lambe suas feridas atrás do balcão, vendo a vida passar todas as manhãs na porta de seu bar, vendo um pai desempregado em busca do emprego, o olhar perdido de uma mãe que naquele dia não tem nada para dar aos filhos, alguém dando pulos de alegria por ter se classificado bem num concurso, o religioso que já fez coisas que até Deus duvida e hoje passa gritando salmos e passagens bíblicas afim de apagar seu passado e fazer as pazes com o criador, um casal de namorados indo para a escola, com seus sonhos e aquele sentimento gigante que todo adolescente tem.



Zé Maria sabe que o mundo é o ser mais revoltado que existe, pois ele muda quando ele quer e do jeito que ele quer. Não sei quanto tempo o mundo tem para frente ou para trás, não sei se é criança, adolescente, adulto, terceira, quarta ou quinta idade. Sei que ele é teimoso que só. A gente não consegue mudá-lo, por isso alguns ignorantes teimam em destrui-lo.


Por que não aproveitamos o tempo que temos para abraçar os amigos, fazer um torresmo, beber algo de nossa preferência, ouvir boa música, fazer uma parceria de samba que vai durar a vida toda e às vezes virar uma sólida amizade, como uma família? Assim faz o Zé Maria no seu convívio com o mundo do samba e com cada componente do GRES Unidos do Porto da Pedra, com os passarinheiros, poetas e sambistas que frequentam seu bar, com sua fiel escudeira e musa inspiradora Adália, enfim, ele consegue conviver e viver bem com todo mundo.


Demorei a entender como ele consegue ser um cara tão legal. Das várias histórias que vivi com ele no mundo do samba, lembrei-me de uma muito engraçada. Numa disputa de samba de enredo, um compositor parou o carro na porta da escola, abriu a mala e lá estava um banquete: galinha assada, farofa amarela, cachaça, doces, balas, velas, um verdadeiro despacho. O cara chamou os compositores para confraternizar, ninguém chegou temendo ser coisa de feitiço. Zé Maria não se fez de rogado e pegou de tudo um pouco, bebeu da cachaça, comeu da galinha e farofa e saiu sambando de ladinho todo faceiro.


Quando já amanhecia e o resultado foi dado, o samba do cara foi desclassificado e o de Zé Maria ficou na disputa, saiu depois, mas desta vez passou.


Depois desta e de outras várias lembranças, acho que descobri:


O nome do pai de Jesus é José, o nome da mãe de Jesus é Maria. Uma pessoa que se chama José Maria, na verdade se chama amor.

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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.







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