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Fórum encara dura realidade econômica de São Gonçalo

Encontro debateu a situação de emprego, trabalho e renda no município que é preocupante


Por Rodrigo Melo

Fórum reuniu representantes de várias organizações da sociedade civil no Centro/Foto: Divulgação
Fórum reuniu representantes de várias organizações da sociedade civil no Centro/Foto: Divulgação

O primeiro encontro temático do Fórum de Desenvolvimento Sustentável de São Gonçalo, que reúne mais de 40 entidades da sociedade civil da cidade, ocorreu na última quarta-feira, 19, debatendo o tema "Trabalho, Emprego e Renda", e teve como palestrantes a socióloga Carolina Gagliano, do Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos e Socioeconômicos (DIEESE) e o economista e professor da UERJ, Bruno Leonardo Sobral.


De acordo com a proposta participativa do Fórum, diversos representantes de movimentos sociais apresentaram suas demandas e pontos de vistas para o mesmo problema de desemprego estrutural que aflige a cidade já há algumas décadas, mas que se intensifica a partir de 2014, início da crise econômica no país, e particularmente no estado, com a política de desinvestimento da Petrobras pós-Lava Jato, que dizimou empregos na cadeia industrial do petróleo.

- São Gonçalo tem péssimos índices de empregabilidade. Há pouco tempo a Bem TV apresentou uma pesquisa alarmante em que apontou que mais de 34% da juventude, sobretudo a juventude negra do município, está desempregada, índices maiores que na Síria que está em guerra e no Haiti, que vive um caos social há quase uma década - disse Pedro Rocha, do movimento "Desenvolve São Gonçalo".


Thalia Carvalho, que é uma das coordenadoras de um coletivo LGBTQI+ na cidade, foi enfática em defender o direito ao emprego de um dos grupos sociais mais marginalizados e atacados do Brasil, terceiro país que mais mata travestis e homossexuais no planeta.


- Falar de emprego é fundamental. Mas emprego pra quem? A minha população precisa estar inserida nisso aí. Mais de 95% do público trans têm como meio de subsistência a prostituição. Não queremos nos prostituir. Não é possível que tenhamos que nos submeter a isso para colocarmos o pão na mesa - desabafou.


A gonçalense Carolina Gagliano apresentou um perfil socioeconômico de São Gonçalo pra lá de preocupante. Segundo a socióloga, a cidade com aproximadamente 1,2 milhão de habitantes, oferta apenas 107 mil empregos formais, a maioria das atividades com pouco valor agregado.

- Em 2018, 40% dos empregos formais em São Gonçalo estavam no setor de serviços. A remuneração média nesse setor, que abrange atividades muito ou nada especializadas, é de R$ 2.100,00. No comércio, que emprega 30% da mão de obra, o salário médio é de R$ 1.700. A média salarial do município é R$ de 2.160. Temos um problema de uma estrutura econômica pouco dinâmica e diversificada, com baixo valor agregado, com baixos salários, que é um problema para reter mão-de-obra qualificada aqui na cidade. 83% dos empregos pagam até três salários mínimos, sendo que 44% dos salários pagos em São Gonçalo é de até 1,5 salário mínimo - observou Gagliano.


Essa realidade, ressaltou Gagliano, é a principal razão do 'movimento pendular', que é a saída diária dos moradores da cidade para trabalhar em outros municípios, ou mesmo do fenômeno da 'diáspora gonçalense', de se mudar de vez para poderem ficar mais próximos do local de trabalho. Ela mesmo 'vítima' da emigração forçada:


- Eu mesma sempre quis trabalhar na minha cidade, perto de casa, mas jamais consegui - revelou.

Para a socióloga os desafios são enormes. Mesmo sendo a 5ª maior economia do estado em produto interno bruto (PIB), São Gonçalo tem um orçamento muito pequeno ante ao tamanho da sua população. Para ela, é necessário investir nos serviços públicos a partir da ampliação de recursos vindos da União e do estado, mas para isso deve haver um projeto concreto de cidade:


- Os gonçalenses precisam – e muito – de serviços públicos gratuitos, universais e de qualidade devido ao perfil da cidade. São Gonçalo deve ter um projeto concreto, com metas, prazos, que possibilite a ampliação de repasses das esferas federal e estadual para o município. Não existe fórmula pronta que possa ser copiada e colada. Grupos políticos rivais têm se revezado no poder, mas com o mesmo projeto. Isso não deu e jamais dará certo - finaliza.


O economista Bruno Leonardo Sobral reforçou a necessidade de se refazer o pacto federativo que, segundo ele, está uma 'bagunça', para que os municípios, através de um planejamento regional, possam ter autonomia nos investimentos necessários para o seu desenvolvimento, já que o poder local, sozinho, pode muito pouco:


- O poder local pode muito pouco. Municípios como São Gonçalo, que têm baixa capacidade de arrecadação, dependem das transferências de recursos da União e do estado para realizar investimentos além do que é garantido pela Constituição. Por isso, prefeitos ou quem atua no poder local, estão muito desamparados, porque dependem de acordos políticos que podem ou não ser feitos ou dar resultados. As reformas que devem realmente ser feitas são as que criem instrumentos políticos para dar autonomia financeira aos municípios. Hoje, as reformas vão na direção de obrigar os prefeitos a não gastar. E o Rio deve fazer um planejamento regional, coisa que jamais foi feita. Devemos repensar as formas de investimentos das cidades através desse planejamento - observou Sobral.

A advogada Sônia Jardim, uma das organizadoras e responsável pela relatoria do Fórum, exortou a participação dos gonçalenses nos próximos encontros:


- Estamos procurando soluções para questões fundamentais que permeiam a segurança, a educação, a saúde, a cultura e a mobilidade urbana. Esse foi o início de uma série de debates que ocorrerão com objetivo de apresentar um plano de desenvolvimento para São Gonçalo com integração regional para dar solução aos diversos problemas de nosso município. A presença de todos os gonçalenses é bem vinda para construirmos uma nova cidade.


Os pré-candidatos à prefeitura, Professor Josemar Carvalho (PSOL) e Isaac Ricalde (PCdoB) participaram do encontro.




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