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Dia Santo

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Por Paulinho Freitas

Arte: reprodução
Arte: reprodução

Acordo às cinco horas da manhã com um foguetório danado, muito barulho. Às seis horas, novamente o espocar ensurdecedor dos fogos. No céu, balões carregados de fogos fazem um espetáculo sem igual, lindo para os que os soltaram e macabro para outros, pois certamente vão causar estragos em algum lugar quando caírem.


Na vizinhança, enquanto os fogos espocam, pessoas ajoelham no chão, erguem as mãos, choram, agradecem e louvam ao Santo do dia. Depois, alguns correm para a igreja e assistem a primeira missa, acendem velas e compram fitas e lembranças nas barraquinhas montadas na rua da igreja. Em casa, outros já acendem o fogo para feitura de uma suculenta feijoada e põem a cerveja para gelar. 


Ainda na hora dos fogos, cães e gatos correm de um lado para outro, atônitos com o barulho ensurdecedor, atravessam as ruas sob o risco de atropelamento, entram embaixo de móveis ou de qualquer coisa que os possa proteger de tamanho perigo, sob o risco de acidentes. Idosos se assustam e se encolhem, e pessoas sensíveis a som alto, choram, algumas gritam num grande desespero. Nos hospitais, pessoas que já têm dores suficiente para sofrer, veem a agonia aumentar e suplicam um pouco de paz. 


No decorrer do dia a alegria toma conta dos terreiros e quintais. Grupos de samba fazem a alegria da galera, que canta, dança e brinda à vida. 


Às seis da tarde, sob outra chuva de fogos, com vozes embargadas pela emoção e emboladas pela bebida, o povo faz uma oração e mais uma vez agradecem por mais um ano, por todas as conquistas, pelos livramentos e pedem proteção para continuar vencendo as batalhas que a vida impõe. Depois, os tambores e cavacos silenciam, é hora de limpeza e arrumação, amanhã é dia de luta, de trabalhar para fazer jus a proteção na caminhada de mais um ano que agora começa. 


Em algum lugar alguém chora o prejuízo causado por um “lindo balão” que caiu sobre seu patrimônio, os animais saem de seus esconderijos e, desconfiados, farejam o chão para se certificarem de que o perigo passou. Os idosos, já calmos se recolhem para o merecido repouso. As pessoas sensíveis a som alto estão aliviadas. Nos hospitais, o silêncio conforta e ameniza a dor de quem padece. A cidade dorme. 


 Amém! 

 

Ah meu São Gonçalo! Protegei os filhos de tua terra! 

 

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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor


 

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