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Pedreira Carioca: história entre o Rocha, Lindo Parque e o Engenho Pequeno, por Erick Bernardes


Maquinário da Pedreira parado/Foto: Erick Bernardes
Maquinário da Pedreira parado/Foto: Erick Bernardes

A Pedreira Carioca se localiza na extremidade da estrada de mesmo nome. Sim, Estrada da Carioca, espaço limítrofe entre os bairros Engenho Pequeno, Rocha e Lindo Parque. E é sobre esse local quase esquecido que falaremos hoje.


Para quem vem de um lado, chega-se à cancela da empresa de exploração rochosa e entra direto no parque industrial da Carioca. Por outro lado, atravessa-se fácil o espaço do Engenho Pequeno, popularmente chamado de Orcal, e pronto. Sim, reduto onde há ruas de paralelepípedos e casinhas projetadas pela antiga construtora responsável por apelidar o entorno. Eis aí, uma tríplice fronteira demarcando o território a ilustrar a minha memória. Vi ontem que ainda existe e agoniza a tal pedreira dos meus tempos de moleque, lugar anteriormente próspero, onde tantas vezes brinquei de pular das montanhas artificiais, espécie de repositório gigante de pó de pedra. Saltos mortais à vontade, cambalhotas e gargalhadas. Isso mesmo, até a sirene da fábrica decidir nos mandar embora para a casa e impor o fim da brincadeira.


Hoje está mais que evidente: ainda usam esses resíduos moídos de granito na produção de concreto armado em outros lugares também, como se fossem areia de obra aplicada à construção civil. Exato. Pó de pedra da Carioca. Produto de qualidade. Já no meu tempo de menino eram granitos na forma arenosa, refinados por máquinas — e onde as brincadeiras de saltar das velhas dunas brilhantes, levemente azuladas, permitiam nossos corpos suados de se empanarem na poeira do tempo. Época boa, garotos sujos, porém felizes.

Pois é, mas nem só a boa convivência havia entre a pedreira e a comunidade. Funcionava assim: bastava o relógio alcançar as cinco da tarde para o sinal de ignição da Pedreira Carioca apitar e o terremoto de três segundos acontecer. Sim, claro, ou você acha que toneladas de rochas explodindo na ponta do bairro Engenho Pequeno não causariam trepidações?

Lembro de tudo quanto era vidro sacodindo por causa do estouro da pedreira. Janelas tremiam e acusavam barulho extremo. Instantes de paredes e tetos balançando. Aos parentes e amigos desavisados, o risco do desconforto. Percebia-se nos olhos a tensão dos visitantes. Mas nós, moradores do Engenho Pequeno, desde cedo nos acostumamos com uso de detonadores nas jazidas de granito que abasteciam essa parte de São Gonçalo. Vez ou outra erravam a carga de dinamite e alguns pedregulhos vinham de encontro às casas das ruas contíguas. Mas ninguém se feriu, ao menos não me chegou informação assim. De fato as pedras lançadas ao léu escolhiam só telhados e janelas. Nunca vi vizinho se machucar, nenhum sequer.


Agora, ao visitar meus pais por causa da saudade, passei em frente ao maquinário de aspecto abandonado. Necessário reconhecer, o saudosismo me fez parar. O lugar se encontra atualmente ermo. Deserto e sem as antigas brincadeiras de outrora. Sumiram-se as dunas das brincadeiras. O silêncio do entorno é sombrio. Confesso ter dado duas ou três olhadas ao redor do espaço vazio para ver se não havia algum vendedor de substância proibida embrenhado por ali. Pois bem, ninguém, graças a Deus, ninguém a comercializar escondido narcoprodutos. Tirei o celular mixuruca do bolso e pronto. Estão aí as fotos da Pedreira Carioca.


Por fim, registro do dia da visita ao Engenho Pequeno: imagens, memórias, recordações, saudades. E é essa história que compartilho agora com você.



Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.




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