top of page

Um bravo gonçalense: homenagem ao ex-combatente Oswaldo Mendes, por Erick Bernardes


Ficha de inscrição de Oswaldo Mendes na Associação dos Ex-Combatentes do Brasil/Foto: Acervo da Família
Ficha de inscrição de Oswaldo Mendes na Associação dos Ex-Combatentes do Brasil/Foto: Acervo da Família

Falemos hoje desse filme chamado passado, quando os poetas declamaram vitórias e recitaram êxitos acerca dos ex-combatentes brasileiros, e as injustiças narradas agora talvez venham a nos jogar um balde de água fria, em vez de aguçar o otimismo. Isso mesmo, um cérebro saudável criaria imagens mentais quando os versos nostálgicos ecoassem vitórias e, possivelmente, ofereceriam narrações de alegrias sobre os recém-chegados de guerra. Mas não, de modo nenhum a tinta assentou bem com a matéria podre do passado, e o que se tem para hoje é resultado de uma conversa com o querido Oswaldo Mendes, nada menos que o filho homônimo de um dos praças brasileiros.


Depois de o amigo Oswaldo ter lido a nossa crônica sobre a Praça dos Ex-combatentes, ele expressou sentimentos sobre certas injustiças, confidenciou assuntos sensíveis contados por quem esteve no front de verdade e revelou evidências relativas às mágoas represadas, quando a melodia da Canção do Expedicionário nem de longe consegue disfarçar o abandono legado a esses heróis da Segunda Guerra Mundial.


O caso foi o seguinte, em vez de cantar os versos: "Por mais terras que eu percorra\ Não permita Deus que eu morra\ Sem que volte para lá\ Sem que leve por divisa\ Esse V que simboliza\ A vitória que virá", a consciência legou temperança ao ex-expedicionário Oswaldo F. Mendes (pai e homônimo do nosso amigo), cujos serviços no cargo de Especialista de Telecomunicações na cidade italiana Porreta de Termi permitiu-o compreender que o combatente brasileiro não obteve o reconhecimento merecido. Você crê ter isso só acontecido com ele? Claro que não.


No dia 2 de maio, data na qual se comemora a vitória brasileira, a cena do filho digitalizando as fotos do pai me chamou a atenção. Um arquivo vivo, ali mesmo a nos explicar. A imagem da fotografia original sendo escaneada, o dedo indicador do ex-combatente de voz cansada apontando a si mesmo no retrato de quase oito décadas: "— Aquele da esquerda sou eu, meu filho", confirmou o nosso idoso herói. E isso outrora retratado, senhoras e senhores, ocorreu em idos de 1944, e não há dinheiro que pague tanta emoção ali acontecendo.


O querido pai do nosso amigo se foi recentemente, mas o reconhecimento fica, como pós-memória, graças à expertise do filho, em registrar tudinho no computador. Mas antes do falecimento, a conversa franca:


— E como foi, papai?


Sabe, filho, ficamos retidos cerca de 6 meses em face da resistência alemã e, também, devido ao efeito tremendo da neve (leia-se "tremendo" nos dois sentidos) pelas cercanias da cidade italiana. Éramos obrigados a dormir dentro de uma sacola de lã acrescida de seis cobertores, caso contrário congelávamos.

Foto: Acervo da Família
Foto: Acervo da Família

Bem, necessário contextualizar ao menos um pouco dessa narrativa histórica. Para esclarecimentos, a cidade de Porreta de Termi sempre foi famosa por seus banhos sulfurosos e cobiçadíssimos balneários, desde a época do Império Romano. Se há lugar onde as investidas dos combatentes ao longo do tempo marcaram o território, é lá, pois não foram poucas as guerras europeias anteriormente travadas na região. Os motivos? Duas explicações especiais: as águas medicinais (e por isso muitíssimo cobiçadas) e o anteparo natural protetor de quem por ali sentasse suas bases militares. Ou seja, um tipo de muralha criada pela própria natureza; maravilha defensiva.


O brasileiro desconhece a importância da FEB (Força Expedicionária Brasileira) na retomada da cidade italiana de Monte Castelo. Uma pena não se saber, pois merecíamos mais reconhecimento do mundo. Mas como, se nem aqui se valoriza o esforço dos Bravos?

De acordo com a nossa testemunha ocular, as forças aliadas venceram a batalha pelo caminho da orla da praia. Referiram-se como "O dia D" na História Universal contada nas escolas. Desnecessário reforçar o grau de importância dos militares brasileiros. Será que se não fossem os nossos combatentes, as tropas soviéticas teriam resistido tanto à ofensiva alemã? Duvido. É ruim, hein! Enfim, melhor é chamarmos a batalha de esforço conjugado.


Assista ao vídeo pessoal feito pelo querido Oswaldo Mendes:



Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.




POLÍTICA

KOTIDIANO

CULTURA

TENDÊNCIAS
& DEBATES

telegram cor.png
bottom of page