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Carnaval, Mulheres, Daniel

Foto do escritor: Jornal DakiJornal Daki

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Por Paulinho Freitas

Foto: Divulgação/GRESU Porto da Pedra
Foto: Divulgação/GRESU Porto da Pedra

A quadra do GRESU Porto da Pedra estava lotada. Era apuração dos desfiles das escolas de samba da série ouro. Das dezesseis agremiações, só uma seria alçada aos desfiles do grupo especial em 2026. Com a emoção à flor da pele, choramos sem nenhuma cerimônia, torcemos, sofremos, aplaudimos, xingamos, gritamos, confiamos na vitória. 


Fim da apuração, não conseguimos vencer, mas com consciência tranquila de que a escola fez um excelente desfile nos abraçamos, prometendo mais garra, mais vontade e mais trabalho para que no próximo ano consigamos alcançar nosso objetivo. 


No meio da quadra, Daniel, que passa os dias dançando e cantando pelas esquinas do centro da Cidade, era a imagem da alegria. Quando me viu fazendo uma foto sua, aí é que ele caprichou nas coreografias. É uma criança grande. Puro, inocente e feliz só por existir. 


Chego em casa, ligo a TV e as notícias acabam com minha alegria. Estatísticas apontam um número crescente de denúncias de feminicídio, mais de vinte mil em um ano. Lembro que já meti minha colher em briga de marido e mulher e não me arrependo. Essa foi uma delas: 



Certo dia um casal invadiu uma casa na esquina da rua onde moro. O dono do imóvel, ao invés de despejá-los, fez um acordo e alugou o imóvel para eles. Numa noite de domingo ouço uma gritaria na rua. As mulheres gritam que o casal da esquina briga. O homem, um gigante de 1,90m cheio de músculos, ameaça espancar a mulher. Do lado de fora da casa alguns vizinhos observam sem tomar partido. Cheguei perto do portão e gritei: ô irmão! Para com isso! Deixa de ser covarde! Vai bater em mulher? O cara parecia um Ogro, suas narinas pareciam bater palmas tamanha a sua fúria. Virou-se para mim e disparou: dou porrada em você também!  


Sabe aquela sensação que você tinha quando sua mãe te chamava pelo nome completo? Dava aquele frio na barriga, o suor escorria pelo rosto mesmo não estando calor e uma vontade danada de fazer cocô vinha de repente. Lembra não? Pois é. Foi isso que senti. Mas, não me dei por vencido. Peguei o telefone, fui para o meio da rua, subi em cima do pavor que tomava conta de mim e disparei: _ bater em mim é mole. Quero ver encarar a Patamo que já está chegando aí! Eu quero ver se você é homem agora! 


O cara murchou. Saiu porta à fora e sumiu. A mulher dele pegou o dinheiro que tinha em casa para pagar o aluguel e ele queria beber mais. Daí a confusão. 


O tempo passou e eu, toda vez que o via, fazia cara de mau (kkkkkkkk) e ele olhava para o outro lado. 


No final do ano o cara subiu o morro, bebeu todas, pegou a moto de alguém e sem saber pilotar desceu a toda velocidade. Bateu numa árvore, onde deixou uma das pernas e se estatelou aos pés do Obelisco fincado na Praça da Marisa. Depois disso, não que eu desejasse mal a ele, mas fiquei mais tranquilo. Agora eu poderia correr mais que ele. Nunca briguei na minha vida, mas não me omitirei diante da covardia. Vou apanhar, tenho certeza, mas não serei vencido. 


E Daniel? O que ele tem a ver com isso?  Se todos os homens, apesar do tamanho, tivessem a pureza do olhar de Daniel e a gentileza no tratar das pessoas, o mundo teria uma cor de rosas linda. Sem manchas vermelhas. É claro! 

                          

VIVAS À VIDA! VIVAS À MULHER! 

VIVAS AO GRES UNIDOS DO PORTO DA PEDRA! 

 

Obs: Qualquer semelhança com nomes, acontecimentos e pessoas, é mera coincidência. 


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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.



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