Dia Feliz
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Dia Feliz

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Por Paulinho Freitas

Foto/Arte Reprodução
Foto/Arte Reprodução

O sábado estava lindo. O por do sol, visto da Praia das Pedrinhas, não deve nada a qualquer por do sol dos lugares mais lindos do mundo. Num dos muitos bares daquela orla, o de Chico Leão estava todo enfeitado de flores brancas e tendas de seda branca. Era casamento de Roberto e Janice. Ela sempre sonhou casar na praia, ele, não fazia nada que a desagradasse. Beijava-lhe os pés todas as manhãs. As amigas dela se contorciam de raiva.


O estereótipo de Janice não favorecia. Era obesa e baixinha, também não tinha a beleza  que a sociedade hipócrita exige. Enquanto Roberto era um Deus grego de tão bonito. Ele, para desespero das primas e amigas dela, não deixava Janice respirar, tantos eram os calorosos beijos e abraços que  lhe dava na frente de todos. 


Lalá, a tia mais velha, famosa pelos quitutes que prepara com maestria, falava mal da comida. Uma estava sem tempero, outra estava sem apresentação, outra ainda estava mal cozida e por aí vai. 


Zeca, marido de Lalá, bebia e comia sem parar, queria levar mais uns quilinhos para juntar aos seu já bem pesados  120 kilos e gargalhava de felicidade todas as vezes que o garçom se aproximava com a bandeja. 


Perto do balcão, Adilino, o advogado da família e o mais abastado também, bebia um whisky, com cara de poucos amigos, reclamava da vida, da família, da comida e da existência de vida na terra. Ninguém dava atenção e o dia seguia com animação. 


O grupo de pagode formado pelos adolescentes da família começa a tocar. Todos cantam e dançam ao som de “dentro do meu peito, arde uma paixão...”, Roberto e Janice pousavam para a lente poderosa de Luiz Fernando, o fotografo exclusivo da família enquanto o vento primaveril beijava cada rosto, refrescando e trazendo bem estar. 


Como em toda família tem aquele cara do contra, que gosta de ver o circo pegar fogo, naquela tinha Benício, chamado de trambiqueiro por uns, de traíra por outros e mulherengo sem vergonha, pelas mulheres, pois não podia ver um rabo de saia que já ia cantando, achou que a festa estava muito parada. Pegou o microfone e quando todos pensavam que ele ia cantar um samba de Benito, como era seu costume, ele grita em altíssimo som: SEM ANISTIA!!!!! 


Nonô Cabelo levantou e repetiu: SEM ANISTIA!!!!! 


Não se sabe de onde, um prato de farofa veio voando e acertou em cheio a cara de Nonô, que já pegou uma garrafa e atirou em Benício, que saiu festa a fora gargalhando, enquanto Adilino aproveitou a confusão e deu uma rasteira no garçom, que estava com um broche com o número de um partido do político diferente do de sua preferência. Alguém puxou a peruca de Lalá, que atônita tentava esconder o pouco cabelo com as mãos, ajudada pelo sempre solicito marido. A essa altura, o grupo de pagode ataca um samba de enredo do GRESU Porto da Pedra: “Endiablado eu tô! Eu tô, eu tô..., a confusão ganha contornos incontroláveis, o sol mergulha mar à dentro para o merecido descanso enquanto Roberto e Janice já se amam no quarto de um motel da Rodovia Amaral Peixoto.


Entre mesas e cadeiras voando em todas as direções, Pedro Gato dormia e sonhava com um amanhã melhor. Até porque, amanhã tem o enterro dos ossos e promete ser mais um dia feliz naquela família feliz. 


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 Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor

 

 

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