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Malandro Mané

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Por Pulinho Freitas


Imagem gerada por inteligência artificial
Imagem gerada por inteligência artificial


Final da década de oitenta, início da década de noventa. Os bairros de Mutondo e Colubandê eram um paraíso para aqueles que como eu possuíam carros antigos e tentavam mantê-los em movimento. Nessa época eu comprei meu primeiro carro. Um Fusca 1967 azul, paralamas pretos e alguns muitos pontos de ferrugem. Vivia para enfeitar minha “máquina” e era assíduo frequentador de ferros velhos atrás de peças, uma vez que meu amor automotivo vivia mais na oficina do que na garagem.  


Num desses ferros velhos trabalhava um cara com o apelido de Lagartixa, um mulato sarará que não perdia uma oportunidade de levar vantagem. Se você procurasse uma peça que não tivesse em estoque ele saia e em questão de minutos voltava com a peça. Cobrava o valor do patrão e uma porcentagem para ele também. Na verdade ele saia à rua na intenção da peça. Não importava se ele pegaria emprestada com um concorrente o furtaria de algum carro que estivesse parado nas redondezas. Como ninguém nunca desconfiou dele, seguia fazendo das suas sem ser incomodado.  


Quando a gente chegava na loja em que ele trabalhava, numa rápida olhada ele já sabia tudo o que o carro precisava e empurrava o que podia no cliente, que muitas vezes saia de lá com muitas compras, menos com a peça que foi comprar. Era também um excelente vendedor. Motivo pelo qual o patrão também fazia vista grossa quando notava a falta de pequenas quantias no caixa ou de  alguma peça de pouco valor. Lagartixa não refrescava ninguém.


Gostava de jogos de azar e não faltava um sábado nas mesas de jogos clandestino num certo sobrado, muito conhecido, ali no centro da cidade. Ganhava muito dinheiro com as falcatruas que fazia.


A perdição de Lagartixa veio através do sorriso escancarado, cheio de dentes lindos, um hálito perfumado e um beijo que o fazia sair do planeta terra e ficar tonto de uma galega de pele rosa que atendia a cavalheiros numa das primeiras termas de São Gonçalo.


Quando chegou no trabalho pediu ao patrão para sair mais cedo, pois tinha um encontro especial. O patrão permitiu, estava desesperado depois que acertou uma milhar na cabeça, uma grana preta para receber, mas não sabia onde guardara o bilhete.


Lagartixa, com um sorriso canalha no canto da boca correu para os braços da amada, que como de costume, o recebeu como uma menina moça recebe seu primeiro namorado, um príncipe encantado.


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 Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor

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