Tudo vem e vai
- Jornal Daki
- 29 de ago
- 2 min de leitura
Por D.Freitas

Há algum tempo me peguei pensando sobre a inspiração e toda a falta que ela faz quando vai e a sobra que se dá quando está aqui. Nunca é apenas o suficiente para preencher. Transborda. Contudo não é apenas isso que me chama atenção ao caminhar em meus pensamentos. Penso na mobilidade das coisas em nossa vida. Sejam elas táteis ou não. Pessoas ou objetos. Do mais supérfluo ao mais importante. Tudo bem e vai.
São onze e pouca. Aquela hora em que é cedo demais para um segundo café da manhã e ainda não se encontra pronto o almoço. O grito gutural da barriga se faz presente enquanto a minha mente vaga sobre ela mesma e além. Algo que deveria ter a minha atenção, está escrito na louça e alguém tenta explicar em vão para um bando de "babuínos bobocas balbuciando em bando". Pela janela atrás desse ser, as folhas dançam como mariposas em queda e anunciam o início do outono. A vida naquela árvore parece cessar. As cores se vão. O frio vem. Não só o físico, mas o agouro, que me percorre a espinha e me trás de volta para a terra antes mesmo de me entregarem a notícia. Na sala de aula todos olham em minha direção como se vissem um fantasma. Em seguida, ao ouvir o que o homem que surgiu na cena abrindo a porta veio me dizer, provavelmente eu fiquei pálido como um. A fome passa.
"Toda energia é emprestada e um dia ela deve ser devolvida." Ouvi isso em um filme. Uso como consolo para momentos como esse onde observo alguém que conheci, e era tão ativo, imóvel. Alguém que tinha uma risada que coloria, tão pálido quanto fiquei quando recebi a notícia dessa partida. Alguém que não tive a oportunidade de dizer que sinceramente admirei. O peito se sufoca mas as lágrimas não rolam. Apenas as dúvidas perambulam na minha cabeça: Para onde vamos? Somos só isso? Ainda me ouve? Que horas volta?
O tempo passa.
Todos se vão.
Fico só refletindo sobre a lápide.
-Todos se vão.
Escuto o sussurro da inspiração.
Tudo vem e vai.
-e tudo bem.
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Davi Freitas (D.Freitas) nasceu em São Gonçalo, cria da cultura gonçalense, desde sempre conviveu com músicos, poetas e escritores. autodidata, aprendeu violão e bateria sozinho e junto com o irmão Lucas Freitas fez algumas apresentações até ter, por motivos profissionais, que mudar de estado. Como escritor, participou, pela Editora Apologia Brasil da Antologia em Tempos Pandêmicos e inicia agora sua trajetória no mundo das crônicas e contos.
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