Vereadores em compasso de espera com o governo Nanci
O governo Nanci, que pela primeira vez se viu na mira dos vereadores na Câmara, comemorou o recuo de alguns parlamentares na semana passada, mas sabe que o embate está próximo se não realizar alguns ajustes para garantir maioria e estabilidade na Casa Legislativa.
A grande maioria dos vereadores apoia o governo, mas enxerga na primeira-dama Eliane Nanci um empecilho político entre o Executivo e o Legislativo. Eliane foi peça-chave na montagem do núcleo duro do governo e nas nomeações das cobiçadas secretarias de Controle Interno e de Infraestrutura, que acumula as não menos importantes subsecretarias de Meio Ambiente e Posturas.
O protagonismo da primeira-dama gerou mal-estar entre vereadores e correligionários, mas esse sentimento tem subido alguns degraus, comprometendo o diálogo entre os dois poderes e gerando insegurança no grupo político do prefeito.
Por conta disso, no início da semana passada o mundo político que apoia, mas que está insatisfeito com o governo Nanci, festejou a informação da queda da secretária de Infraestrutura e prima de Eliane, Badiá Gabriel que, até o momento, segue firme na pasta.
Se foi uma jogada ensaiada do governo, não se sabe, mas a notícia sinalizou para os observadores mais argutos mudança de postura da Prefeitura com seus interlocutores e o desejado enfraquecimento da primeira-dama nas tomadas de decisões do governo, além, é claro, de ter colocado água na fervura política da cidade.
As reações foram imediatas. O vice-prefeito Ricardo Pericar, que não esconde de ninguém o desejo de comandar a pasta de Gabriel, não compareceu à Câmara na última quarta-feira (15) para prestar esclarecimentos sobre o 'imbróglio da garagem' com a primeira-dama.
Num comunicado breve, pediu um prazo de 20 dias para comparecer no Legislativo. Mais do que um pedido de prazo à Câmara, foi o prazo dado ao governo para recuperar o controle dos caminhões e retroescavadeiras da garagem, elementos centrais de sua estratégia de marketing para ter visibilidade entre os eleitores até 2018, quando disputa uma cadeira na Alerj.
Diante desse posicionamento, o vereador tucano Sandro Almeida, que convocou Pericar, retirou logo em seguida o pedido de informações da pauta da Câmara. Num movimento claro de abandono (pelo menos por enquanto) do tema, sugeriu a criação de uma CPI da Cedae deslocando os holofotes políticos do vice-prefeito. Uma CPI da Cedae já fora criada e enterrada na legislatura passada sem nenhum resultado prático.
Com perfil independente, Almeida sabe do potencial explosivo para o governo de um depoimento de Pericar. Calculou politicamente que não era a hora de colocar a mão nessa cumbuca, afinal o seu partido é da base e ocupa cargos no governo, o que geraria desconforto entre os seus companheiros de legenda. E insistir no assunto Pericar reforçaria em Almeida a impressão de conspirador contra o governo já difundida na população. Nessa conjuntura, o virtual líder da oposição recolhe as suas armas e espera.
Eduardo Gordo (PMDB), um dos maiores defensores da presença de Pericar na secretaria de Infraestrutura, também sugeriu à Mesa Diretora a retirada do pedido de informações e comparecimento de Badiá Gabriel na Casa Legislativa. Gordo deixou a decisão para os seus pares, alegando que o pedido de comparecimento estaria causando constrangimentos dos vereadores com o prefeito.
Todos esses movimentos de recuo no tabuleiro político em São Gonçalo podem parecer uma boa notícia para o governo, mas não é. Eles estão condicionados ou à saída ou à desidratação de Eliane Nanci. A notícia, mesmo não confirmada, da queda de Badiá Gabriel, iniciou um processo de reacomodação política dos vereadores baseado na expectativa de abertura de espaços na administração.
Se essas expectativas não se confirmarem no curto prazo, o governo implode com o que restou de interlocução no parlamento. É como afirmou Eduardo Gordo num comentário enigmático na sessão plenária do último dia 15: "Ninguém impõe uma oposição, ela nasce naturalmente".
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